Rotina Diária
Ao estabelecer uma rotina diária com uma estrutura coerente, cujos tempos se repetem sistematicamente, o educador pretende atingir alguns objetivos importantes:
- proporcionar à criança a oportunidade de expor intenções e desejos, tomar decisões, socializar suas experiências com outras crianças e adultos;
- ajudar a criança a compreender o que é tempo, através da seqüência de tempos que se repetem sistematicamente;
- ajudar a criança a controlar o seu tempo, sem necessidade de que o adulto lhe diga o que deve fazer ao acabar uma atividade;
- dar à criança a oportunidade de ter experiência de muitos tipos de interação seja com outras crianças, seja com adultos;
- dar-lhe oportunidade de trabalhar sozinha, em dupla, em pequeno ou grande grupo;
- proporcionar à criança oportunidades para trabalhar em diversos ambientes, dentro da sala de aula, no recreio ao ar livre e, inclusive, na comunidade.
Estruturação da rotina diária
A seqüência dos momentos da rotina, assim como o tempo aconselhado para cada um (10 a 15 minutos, aproximadamente) pode ser alterado de acordo com as circunstâncias, dessa forma, cada educador(a) deverá fazer as alterações que considerar convenientes, adaptando os tempos da rotina diária, seja ao horário de funcionamento de sua escola infantil, seja ao grupo de crianças com o qual trabalha. Algumas observações são, porém, são importantes:
1. A rotina possui os mesmos componentes todos os dias;
2. A rotina ocorre sempre na mesma seqüência;
3. A rotina diária inclui oportunidades para atividades individuais, atividades de grande grupo e atividades de pequeno grupo;
4. A rotina diária possibilita interações criança/criança, criança/adulto;
5. A rotina diária permite à criança expor suas intenções, colocá-las em prática e realizar reflexões sobre as atividades desenvolvidas.
Os adultos devem ajudar as crianças a internalizarem a rotina diária. Para isso, devem manter sempre a mesma seqüência de tempos, referir-se ao nome de cada um dos tempos sempre que o mesmo tiver início (“agora vamos começar o tempo de lanche”), ao longo de cada momento (“estou vendo que hoje você resolveu fazer um castelo de areia no tempo de parque”) e na transição de uma fase para outra ( “o tempo de parque acabou, daqui a pouco vai começar o tempo de história” ).
Os adultos devem estar atentos aos momentos de transição, para evitar que as crianças fiquem sem saber o que fazer quando acabam uma atividade e ainda não começou a seguinte. Assim contribui-se para prevenir as situações de conflito.
As atividades planejadas pelos adultos para os diferentes tempos da rotina diária, devem ser tão diversificados quanto possível e estar de acordo com as necessidades e interesses das crianças. Dessa maneira, as crianças sentirão a escola como lugar onde podem experimentar o sucesso com entusiasmo.
Os tempos da rotina
1. MOMENTO DE ACOLHIDA
No transcurso desse tempo, e enquanto se espera que todas as crianças cheguem à sala de aula, uma pessoa adulta fica na porta para receber as crianças, pais e mães. Desse momento de receber os pais e as crianças, estas também podem participar. Aconselha-se um sistema rotativo, no qual cada dia fique uma criança junto ao adulto.
Enquanto isso, outro adulto inicia o processo de atividades com as crianças que vão chegando: falam, cantam canções, etc. (Roda de conversa).
Durante esse tempo, são apresentadas às crianças os momentos da rotina e podem ainda ser escolhidas as tarefas pelas quais serão responsáveis (ajudantes) nesse dia, por exemplo, distribuir lápis para os colegas, etc.
2. A HORA DA HISTÓRIA
A hora da história pode ser no parque, no pátio, na sala, sentados ou deitados no chão. Apenas um lugar para viajar, dar asas a emoção quando se escuta... Era uma vez...
As crianças que escutam histórias desde pequeninas aprendem a gostar de ler, se identificam com os personagens e viajam por lugares diferentes. As histórias ajudam também a criança a aceitar situações desagradáveis e a resolver conflitos internos.
3. HORA DO PARQUE (PSICOMOTRICIDADE)
A educação psicomotora é, sobretudo, a educação da criança através do seu corpo e do seu movimento. A inteligência da criança é construída pelo processo de interação da criança com o ambiente. A partir do conhecimento e do controle que a criança possui do seu corpo compreende a relação que existe entre ela mesma e o seu meio ambiente (posição das coisas no espaço, posição entre ela e os objetos, etc). Este momento da rotina pode ocorrer no parque, no pátio ou em qualquer local ao ar livre. A professora deverá planejar este momento com atividades físicas amplas ou específicas onde as crianças possam correr, subir, utilizar brinquedos do parque (balde e pás de areia, etc).
4. HORA DA HIGIENE PESSOAL (BANHO)
Durante o banho podem ser organizadas brincadeiras com garrafas plásticas, brinquedos, buchas coloridas, bolinhas de sabão. Ao som de músicas ou ouvindo histórias as crianças aprendem hábitos de higiene, conhecimentos sobre o corpo e desenvolve a autonomia com o prazer de um banho agradável e sem pressa.
5. HORA DA ALIMENTAÇÃO (LANCHE / ALMOÇO)
Durante as refeições, a criança tem oportunidade de relacionar-se com o outro, adquirir conhecimentos e desenvolver sua autonomia. É necessário que a criança desde cedo tenha a oportunidade de experimentar comer sozinha (com ajuda do adulto). A conversa com as crianças e, ao mesmo tempo, a conversa entre as próprias crianças, num clima de interação, possibilita momentos agradáveis e ricos em aprendizagem. A criança, ao comer, adquire hábitos alimentares, de higiene além de muitos conhecimentos sobre os alimentos: sua origem, textura, forma, cor, odor, sabor, etc.
6. HORA DO REPOUSO
Após a alimentação, as crianças podem dormir ou apenas descansar, ou podem brincar em seus berços ou colchonetes. É importante que o local de repouso da criança represente um referencial seguro e aconchegante e deve conter objetos pessoais (chupeta, “paninho”), brinquedos trazidos de casa ou escolhidos pela criança, na própria instituição.
7. HORA DA ATIVIDADE DIVERSIFICADA OU DE MÚLTIPLA ESCOLHA (TEMPO DE TRABALHO)
Neste momento a criança terá oportunidade de escolher onde gostaria de trabalhar (desenho, pintura, modelagem, brincar com blocos ou outros brinquedos/ jogos educativos, etc). A professora reúne-se com o grupo para conversar sobre o que cada criança quer fazer e como vai fazer. São as próprias crianças que decidem o que querem fazer, como vão passar o seu tempo no trabalho. Elas começam a perceber que são capazes de decidir e atuar sobre suas decisões. Neste momento de escolha, a professora pode ajudar a criança a reconhecer o que deseja fazer e planejar nas atividades:
- Se a criança tem controle de escolher uma atividade para trabalhar sozinha ou em pequeno grupo;
- Se tem vontade de escolher uma atividade mais calma, mais sossegada ou se a criança precisa escolher uma atividade que ajude a canalizar suas energias. A professora deve avisar as crianças, alguns minutos antes de acabar cada tempo, para que possam concluir seus planos e organizar o material. A professora pode dizer: “O tempo de trabalho está perto de acabar, depois é tempo de arrumar”. Durante a atividade diversificada, a professora terá mais tempo para trabalhar com pequenos grupos, dar atenção individualizada quando necessário e ainda fazer avaliação mais detalhada do desenvolvimento de cada criança.
8. HORA DA MÚSICA
A música contribui para a formação, desenvolvimento e equilíbrio da personalidade da criança. O acesso à música representa uma possibilidade de criar, de interpretar e ouvir. Mesmo as crianças bem pequenas se expressam através de movimentos, ritmos e sons. Os sons da natureza tais como dos pássaros, dos grilos e do vento, dão muito prazer às crianças. É importante que a professora ofereça um repertório variado para as crianças (cantigas populares, cantigas de roda, músicas clássicas, etc) e inclusive incentive a criação de letras pelas próprias crianças e favoreça o uso de instrumentos musicais.
A rotina diária, como acabamos de apresentar, é um instrumento com utilidade educativa em vários níveis. Não podemos deixar de apontar agora que uma rotina é, principalmente, uma estrutura organizacional pedagógica que permite que o educador(a) promova atividades educativas diferenciadas e sistemáticas de acordo com as experiências que se quer colocar em prática, além daquelas que surjam naturalmente, seja por sugestão de uma criança ou de um grupo.
Para cuidar e educar é preciso então, além de uma rotina estruturada e clara para as crianças, ter atitudes éticas e estar comprometido com o outro, interessando-se sobre o que a criança sente, pensa, o que conhece sobre si e sobre o mundo, ampliando esses conhecimentos e habilidades, favorecendo a criança a ser cada vez mais independente, autônoma e feliz.