Um assunto que frequentemente
angustia pais e mães é como colocar limites de um jeito eficaz. Mesmo os pais
mais seguros e experientes se sentem desafiados por essa tarefa em algum
momento.
São muitas as dificuldades
encontradas: há quem se sinta perdido quando o filho faz birras em público;
quem sinta culpa em dizer “não”, ou não saiba como fazê-lo; há o medo de perder
o amor de seus filhos ou se distanciar deles quando coloca limites ou se
necessita dar um castigo; muitas vezes é complicado conseguir que todos os
adultos envolvidos (pai, mãe, avós, babás) coloquem os mesmos limites, de forma
coerente; ou ainda, se escuta opiniões e palpites conflitantes de outras
pessoas da família; sem esquecer as críticas – feitas pela família ou até por
estranhos na rua – quando se tenta colocar limites; e ainda, como pode ser
frustrante ter que repetir para seu filho a mesma coisa todos os dias.
Porém, é crucial a importância
dos limites para a segurança da criança, seja no sentido de desenvolver nela o
sentimento de segurança (saber que é amada e que você se importa com ela), seja
para a própria proteção e segurança física (evitar acidentes, por exemplo).
Os limites também são essenciais
para que a criança aprenda a distinguir o certo e o errado, o que é aceitável
ou não, e ainda para aprender a lidar mais tranquilamente com suas frustrações
e a conviver harmoniosamente em sociedade. Portanto , os limites auxiliam a
criança a ir mais além, desenvolvendo capacidades que serão úteis para o resto
da vida. Sem dúvida, vale à pena o esforço parental.
A educação dos filhos é um
processo não-linear, ou seja, às vezes tem-se a impressão de dar voltas e
experimentar retrocessos; na verdade, esse processo é natural, até que as
conquistas estejam consolidadas. Estabelecer limites não é uma tarefa que se
faça uma vez só, mas algo que deve ser continuamente repetido e reforçado para
que sejam internalizados.
Por mais desafiador que seja, e
mesmo que cada família encontre um jeito próprio de estabelecer e reforçar os
limites, há alguns princípios a se ter em mente. Eles vão
ajudá-lo a tornar essa tarefa mais simples:
1. Combine as regras e condutas com os
outros adultos
Para os adultos, é indispensável
ter clareza sobre quais são as regras importantes. Essa decisão passa por uma
reflexão sobre os valores pessoais e familiares. Algumas regras são importantes
para a sociedade como um todo, já outras são mais importantes para algumas
famílias do que para outras.
2. Explique as regras e limites para as
crianças
Explique por que cada limite dado
é importante, numa linguagem acessível, sempre enfatizando em que aquele limite
beneficia a criança, mesmo que a princípio isso pareça óbvio para você. Por
exemplo, não diga à criança que não pode brincar com um objeto de vidro “para
não quebrar”, explique também que se o vidro quebrar vai machucá-la e vai doer.
Às vezes a criança não consegue fazer essa inferência sozinha. Aos poucos ela
entenderá que regras e limites existem a seu favor.
Vá além de apenas impor, e sempre
que possível combine as regras com as crianças. Nos combinados, deixe claro o
que espera delas, e quais as consequências para a desobediência.
Lembre-se que alguns limites
variam com a idade (e portanto alguns combinados precisam ser revistos de
tempos em tempos) enquanto outros são fixos e não negociáveis.
3. Estabeleça limites com firmeza e
carinho, ao mesmo tempo
Assim a criança vai aos poucos entendendo
que os “nãos” que recebe de você são atos de amor e de cuidado com ela, e não
você impondo suas vontades de maneira arbitrária.
Tente sempre manter a calma e não
alterar a voz. Não faça ameaças do tipo “Assim não vou mais gostar de você”. Os
limites são para o bem dela, e não para agradar outra pessoa.
4. Torne a informação compreensível: seja
específico
Dê alternativas para um
comportamento. Dizer somente “não deixe seus brinquedos espalhados” é diferente
de dizer onde deve guardá-los. Dizer que deve “tratar os outros bem” é uma
afirmação vaga, que não especifica o que é esperado. Novamente, o que parece
óbvio para você pode não ser para o seu filho.
5. Seja coerente e não confunda seu filho
Dê o exemplo. Não adianta cobrar
do seu filho aquilo que você não faz. Seus exemplos vão falar mais alto que
suas palavras.
Também não adianta cobrar o
cumprimento das regras apenas de vez em quando. Nesse caso,
as regras serão percebidas como imposições suas que variam com seu estado de
humor.
Reforçando: os responsáveis pela
criança precisam estar em sintonia, combinando para agirem de forma coerente na
hora de impor limites e de fazer com que sejam cumpridos. Quando cada adulto
faz de um jeito diferente a criança fica confusa, sem saber quais regras são
importantes, por que devem ser seguidas ou mesmo se devem ser seguidas.
6. Seja justo
Estabeleça regras que a criança é
capaz de cumprir. O mesmo vale para eventuais castigos. Prometa o que é capaz
de cumprir.
Não castigue um desconhecimento
de uma regra. Explique para a criança o que espera dela e as consequências para
uma desobediência futura.
Ainda sobre os castigos, quando
necessários, que eles sejam imediatos. Não adianta suspender o passeio do
próximo fim de semana, pois a criança (e às vezes você) nem sequer lembrará do
motivo do castigo. Também não precisam ser excessivamente longos: o objetivo é
que a criança reflita sobre suas ações e seja cada vez mais capaz de
controlá-las.
Paciência, amor e perseverança. Quando ficar difícil, lembre-se
que você está ajudando seu filho a lidar com frustrações, exercer o
autocontrole e conviver bem com os outros, coisas que só têm a contribuir para
a qualidade de vida.
Fonte: Luciana Hodges
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